terça-feira, 16 de outubro de 2007

Diários cruzados sobre a alimentação





16 de Outubro de 2007

Hoje, lá na escola, celebrou-se o Dia Mundial da Alimentação. Havia fruta, fruta e mais fruta. Se calhar apanharam alguma promoção nas lojas. Pena não terem apanhado uma de chocolates… Isso é que era fixe! Mas não, deram-lhe com a da fruta. Será assim tão importante comer fruta? Lá bebi um sumo e comi salada de fruta. É bom, tenho de admitir que sim. E se ainda por cima faz bem à saúde… Hum…

(Diário de um aluno)


16 de Outubro de 2007

Não sei o que pensar. O João hoje chegou a casa a dizer-me que lá na escola tinham festejado o Dia da Alimentação e que a professora disse que era muito importante comer fruta todos os dias. Parecia que o recado era para mim… Realmente não me preocupo muito se os miúdos comem fruta todos os dias ou não. Aborrece-me fazer o papel de “chata” a andar a trás deles para comer fruta, e eles a resmungar “Não me apetece”, “Já sabes que não gosto, dá-me antes um donut”. A verdade é que a fruta é cara e depois fica aqui a estragar-se. Bem, os bolicaos, as batatas fritas, os chocolates também são caros e eu acabo sempre por comprá-los. Também, com eles a chatear à minha volta “Ó mãe, leva isto, é mãe dá-me aquilo”… Enfim, lá me deixo convencer. Apesar de saber que não é uma alimentação saudável… O que fazer?

(Diário de uma mãe)


16 de Outubro de 2007

Por fim o cansaço. Mas era importante assinalar o Dia Mundial da Alimentação de uma forma actuante. A escola não pode ser apenas transmissora de conhecimentos, tem também a obrigação de promover modelos vivenciais positivos. Temos, por isso, de encarar o projecto de educação para a saúde como uma oportunidade vital para formar comportamentos e atitudes.
E a alimentação dos nossos jovens é uma área tão sensível. Quase todos os dias temos notícias assustadoras sobre o aumento dos distúrbios alimentar. A anorexia e bulimia são palavras que convocam imagens chocantes que todos já vimos, pelo menos, em algum meio de comunicação social, e que gostaríamos de apagar porque elas são a face visível de um sofrimento indescritível. Mas a visibilidade destes problemas esconde uma outra realidade, menos chocante porque não tão ostensivos e imediatos os seus efeitos, mas talvez ainda mais preocupante por se estender a uma percentagem enorme da população portuguesa e mundial. A obesidade é cada vez mais a grande ameaça à saúde pública. E não podemos pensar apenas na obesidade mórbida, mas em todo e qualquer excesso de peso que acarreta consequências a médio ou longo prazo.
Estamos a pagar um preço demasiado alto pelo prazer consumista, que é muito diferente do prazer gastronómico. Perdemos hábitos alimentares ancestrais de um extraordinário valor nutricional e deixámo-nos escravizar pelo fast-food e pela açúcar-dependência que o mercado nos oferece, embrulhados em publicidade estupidificante. O que é realmente bom: o que nos querem vender ou o que é realmente melhor para nós? É preciso redescobrir os sabores essenciais.
Por isso escolhemos a fruta como símbolo de comida saudável: um alimento genuinamente saboroso, naturalmente saudável e, ainda, especialmente atractivo. A fruta pode ser tão bela nas suas múltiplas formas e cores, mais do que qualquer alimento “produzido” pelo markting. E é um alimento nutricionalmente muito rico, que devemos incluir na nossa dieta diária. Pela nossa saúde!
Temos mesmo de perguntar aos nossos alunos, aos nossos filhos, aos nossos amigos: «E tu, já comeste fruta hoje?»

(Diário de uma professora)